Ciclovia com jeito de cartão-postal, estação do metrô a caminho e a reforma do histórico Hotel Nacional, entre outras novidades, prometem mudar a cara de São Conrado.
*Texto retirado da revista Veja (20/01/2016), escrito por Pedro Moraes
Entre a Pedra da Gávea e o Morro Dois Irmãos, à beira-mar e cortado pelo verde de um exclusivo clube de golfe, São Conrado abriga moradores famosos como o cantor Gilberto Gil e o mago da TV Boni. Apesar de todo o jeitão de Beverly Hills (reduto das estrelas de Hollywood), o bairro também sofre com a pobreza e a violência da vizinha Rocinha, engarrafamentos, poluição – o cardápio básico de mazelas cariocas. Na trajetória de altos e baixos dessa privilegiada região na Zona Sul da cidade, acontecimentos positivos vêm se acumulando de maneira promissora. Tapumes espalhados pela área são o sinal mais evidente. Conforme eles forem sendo retirados, a vizinhança vai conhecer uma nova estação de metrô e uma ciclovia com ares de cartão-postal. O investimento em transporte, parte do legado prometido em razão da Olimpíada, atraiu outras empreitadas. Planejada e adiada há anos, a reforma do Hotel Nacional, orgulho local projetado por Oscar Niemeyer, finalmente avançou. Orçada em 400 milhões de reais, está na fase de acabamento.
Há mais. Principal ponto de lazer e comércio na região, o Fashion Mall foi submetido a um processo de melhorias que deve ultrapassar os próprios domínios. Os proprietários do shopping discutem com a prefeitura a implementação de um plano urbanístico que prevê, entre outras obras, o fechamento do canal da Avenida Almirante Álvaro Alberto para a criação de um bulevar. “Somos responsáveis por promover o bem-estar nos locais onde atuamos”, afirma Paulo Stewart, presidente do Saphyr Shopping Centers, grupo ao qual pertence o shopping. Esse ufanismo contagia executivos da multinacional Meliá, à frente da administração do Hotel Nacional. Próximo cinco-estrelas da cidade, o complexo terá três restaurantes e 417 quartos. Após a inauguração, a previsão é que sejam criados 400 postos de trabalho, a ser preenchidos em boa parte por moradores da vizinhança incluídos em um programa de capacitação. “Até o fim do ano reabriremos o centro de convenções e temos o desejo de reeditar os antigos festivais de jazz lá realizados”, diz Rui Manuel Oliveira, vice-presidente da Meliá Hotels International Brasil.
“Há cinquenta anos a região não passava por tantas mudanças. O principado de São Conrado está sendo finalmente retrofitado”, comemora, com bom humor, Rubem Vasconcelos, presidente da imobiliária Patrimóvel e morador do bairro há dezoito anos. Quem vive na área, e não necessariamente vai ganhar dinheiro com as mudanças, também tem o que comemorar. Com inauguração prevista para este domingo (17), a ciclovia Niemeyer descortina, em grande parte do seu trajeto, paisagens de encher os olhos. A via de ligação ecologicamente correta até o Leblon estende-se por 3.900 metros e tem partes construídas na rocha. É uma espécie de passarela sobre o mar erguida pela prefeitura a um custo de 44,7 milhões de reais. O passo seguinte, a conexão com a Barra, ainda está em fase de finalização – é parte do projeto de duplicação do Elevado do Joá, promessa de alívio no conturbado trânsito local que deve consumir 457,9 milhões de reais. Cereja do bolo, a Estação São Conrado do metrô abre as portas em julho e tem expectativa de transportar 61.000 passageiros por dia. Um mês antes, espera-se que já sejam sentidos os efeitos, na praia, da conclusão da primeira fase da instalação da elevatória de esgoto sanitário no bairro. A perspectiva é de recuperação imediata da balneabilidade. Cumpridas todas as promessas – esse sim, o maior dos desafios –, Beverly Hills que se cuide.