Biblioteca Municipal João Bosco Pantoja Evangelista
Histórico do Monumento
Edificação inaugurada em 1908 como sede da Liverpool School of Tropical Medicine, primeira no mundo dedicada à pesquisa e ao ensino em medicina tropical, tornou-se, no início dos anos 1980, um botequim bastante frequentado na época, o Pinguim. Apenas em 1997 foi transformada em uma biblioteca municipal de Manaus.
Integrante do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), o espaço recebeu esse nome em homenagem ao professor, escritor, poeta e jornalista João Bosco Pantoja Evangelista, um dos fundadores do Clube da Madrugada e da União Brasileira de Escritores (UBE) do Amazonas. A biblioteca possui acervo de aproximadamente 4 mil títulos e abrange diversas áreas do conhecimento: livros de temáticas amazônicas, didáticos, acadêmicos, lúdicos, pedagógicos, além de materiais de inclusão em braile e audiolivros.
O Centro Histórico de Manaus, onde está inserido o edifício, apresenta uma área urbana formada por edificações antigas mescladas a prédios modernos. Mesmo que fragmentada, a cidade ainda possui uma paisagem arquitetônica vasta e diversificada, cuja verticalização ainda não compromete a percepção do espaço criado durante a Belle Époque. De acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Manaus pode ser vista como um espaço urbano composto por monumentos de arquitetura corrente e áreas livres públicas que formam um conjunto representativo do ecletismo no Norte do país.
O Restauro
O sobrado de características arquitetônicas ecléticas da Biblioteca Municipal foi devidamente recuperado e adaptado para receber o acervo amazônico, composto por 32 mil exemplares, entre livros, periódicos e documentos especiais, como obras raras datadas do século XVII, integrando o Sistema Nacional de Bibliotecas.
Devido a seu estado de total abandono, como medida emergencial, foi erguida uma vedação em tijolo cerâmico para obstruir os vãos de acesso ao térreo que não tinham mais portas. Sua estrutura original, datada de 1908, foi aproveitada ao máximo, assim como a composição criada na reforma de 1997, com pilares metálicos e vigas em perfil “I” apoiando as lajes de concreto armado.
O acervo e o processamento técnicos, que demandam mais carga, foram acomodados nos andares com laje de concreto. Esses espaços têm acesso a um elevador de monta carga, que levará os livros para o segundo mezanino onde ocorrerá a manutenção das obras. Os demais pisos, que terão incidência menor de carga, são mais direcionados ao público.
Após a recuperação da cobertura de danos causados por agentes biológicos ou atmosféricos, as telhas tipo Marselha passaram por serviços de limpeza, restauração e reposição das peças faltantes.
O piso do mezanino térreo foi demolido para ampliar a visibilidade do pilar de ferro fundido, de origem inglesa, do salão principal, o que contribuiu para a elevação do pé- direito da recepção. Outra demolição substancial ocorreu nas escadas de concreto armado e na escada metálica do mezanino do primeiro andar. Além disso, todas as portas foram retiradas por não fazerem parte dos elementos originais.
As ocorrências mais críticas localizavam-se nas paredes das fachadas que, devido à exposição permanente às intempéries e à ausência de manutenção, tornaram-se locais de proliferação da vegetação, cujas raízes profundas comprometeram o reboco e os elementos ornamentais. Manchas negras e eflorescências, acúmulo de umidade, infiltração, desgaste da pintura, adornos danificados, rudimentos de argamassa quebrados, escoamento de águas pluviais deficitário por conta de calhas entupidas e ferrugem nos artefatos metálicos comprovam as dificuldades enfrentadas.
Os lambrequins de madeira foram resgatados através de uma foto de arquivo antiga. Assim, foi possível replicar os recortes e pendentes característicos da decoração heráldica muito utilizados por imigrantes italianos, ucranianos, alemães e polacos no Sul do país.
As esquadrias do tipo “camarão”, com 4 folhas de abertura em madeira, e os gradis das bandeiras das portas no nível térreo foram totalmente subtraídos. A diferenciação se dava pelo tipo de bandeira, que ocupava o vão de arco pleno, com vidro e gradil em ferro fundido em leque, ou de arco abatido, apenas com caixilho para fixação. Pela iconografia, notou-se que havia outros vãos com esquadrias na área do pátio, com um desenho mais geométrico sem os arcos e as bandeiras.
O pavimento que mais apresentava características originais era o superior. Seu piso em tábua corrida estava bastante degradado, com ausência de inúmeras peças de madeira. No hall de acesso para as salas e a varanda, o assoalho era igual, com padrão de alternância entre madeira clara e escura. O forro de saia e camisa do teto remanescente foi todo refeito conforme o original, com destaque para as aberturas de ventilação. Na entrada também foi dada especial atenção para uma parede de taipa emoldurada como uma janela de testemunho cuja particularidade está nas tramas de tábuas aparelhadas e ripas uniformes que denotam o refinamento construtivo no contexto sociocultural do Amazonas.
A situação interna do prédio era a mais preocupante, considerando que a degradação antrópica foi a maior causa dos problemas encontrados, visto que praticamente todos os componentes das instalações elétricas, louças sanitárias, divisórias, algumas telhas, alguns barrotes, parte do piso de madeira, praticamente todas as portas, os gradis do térreo, bem como os vidros, não existiam mais.
Os ladrilhos hidráulicos das duas varandas também demandaram um trabalho exaustivo que iniciou com a limpeza e o polimento. Na varanda do pavimento superior, foi feito um mapeamento de danos e defeitos. Em seguida, uma argamassa específica foi preparada para tampar buracos das peças, que passaram por um processo de pintura para recuperar as cores originas e aplicação de resina.
Após o restauro da edificação, a construção com características eminentemente lusitanas do fim do século XIX e início do século XX ressurgiu, trazendo de volta a memória histórica desse período.
Ficha técnica
Localização: Manaus (AM)
Período de restauração: Maio/2019 a maio/2020
Data de construção: 1908
Obras de restauração: Arquitetônica
Contratante: Prefeitura de Manaus
Registro fotográfico: Agência Pezzini