Estação Ferroviária de Taubaté

A Estação de Taubaté foi aberta no final de 1876 pela Estrada de Ferro do Norte e construída pela Companhia São Paulo e Rio de Janeiro, esta última constituída por fazendeiros do Vale do Paraíba em 1869. Com essa iniciativa, o objetivo era ligar os trilhos do ramal de São Paulo da São Paulo Railway (SPR) à Estrada de Ferro Dom Pedro II, no povoado de Santo Antônio da Cachoeira, que seguia para o Rio de Janeiro.

Existem poucos registros da estação, um prédio retangular e plano, com galpões para armazenamento de mercadorias dos dois lados, principalmente o café, abundante no Vale do Paraíba nesse tempo. Naquela época, os passageiros que vinham de São Paulo com destino ao Rio de Janeiro paravam na estação de Taubaté. Como havia diferença na bitola dos trilhos em relação à ferrovia Dom Pedro II, que seguia para a Baixada Fluminense, os viajantes eram obrigados a descer dos vagões e fazer baldeação. Em pouco tempo, essa estação tornou-se uma das mais movimentadas do eixo Rio-São Paulo e estratégica para a circulação de pessoas e mercadorias entre os dois estados, impulsionando o desenvolvimento urbano de Taubaté.

Seu estilo é inspirado no ecletismo arquitetônico europeu do século XIX, o qual, na América, incluindo o Brasil, marcou a arquitetura das primeiras décadas do século XX. A arquitetura eclética combina elementos arquitetônicos e decorativos de correntes passadas, em busca de uma nova harmonia inspirada no antigo. Caracteriza-se pela simetria, grandiosidade, rigorosa hierarquização dos espaços internos e riqueza decorativa. 

O prédio da Estação Ferroviária de Taubaté é considerado de grande importância histórica e documenta a memória da industrialização paulista. Até a década de 1980 foi o principal ponto de distribuição do café para o Porto de Santos, de onde era exportado, e, ao mesmo tempo, parada obrigatória de passageiros nas viagens entre São Paulo e Rio de Janeiro.

Consta que a estação foi utilizada por personagens importantes do cenário econômico e cultural brasileiro, como o escritor e empresário Monteiro Lobato, os médicos sanitaristas Emílio Ribas e Oswaldo Cruz, o empresário Félix Guisard, além do presidente Getúlio Vargas, da Princesa Isabel e de Dom Pedro II.

A obra de restauração da Estação Ferroviária de Taubaté iniciou-se em janeiro de 2023, integrando uma das ações do Programa Resgatando a História. A recuperação da estação contou com recursos obtidos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura/Pronac.

O edifício principal e o complexo da estação ferroviária mantiveram intactas suas características originais desde a reconstrução em 1923. Algumas mudanças internas não afetaram os elementos externos da construção original.

O projeto contempla a restauração das esquadrias, colunas e estruturas metálicas das plataformas e a instalação de novos pisos e forros na sede da estação. Além disso, modernização e atualização de toda a parte elétrica e hidráulica.

As intervenções de reforma e manutenção feitas ao longo de cem anos tornaram-se especialmente visíveis nas paredes do monumento quando começaram a remover suas camadas de tinta, revelando várias camadas desde a pintura original até a mais recente.

Seguindo um projeto baseado em antigos registros fotográficos, foi possível reconstruir o muro frontal e fabricar os gradis e portões de ferro. Não se sabe ao certo quando e por que o muro da sede da estação foi removido; as únicas evidências de sua existência anterior são as fotos tiradas na inauguração.

Foi restaurada a cobertura das plataformas, que recebeu uma nova estrutura de madeira e a instalação de telhas francesas, substituindo as antigas telhas de fibrocimento. As treliças metálicas que sustentam o telhado foram limpas superficialmente com escova de aço e revestidas com resina epóxi, para preservar sua aparência envelhecida.

Os ornamentos decorativos foram restaurados. Esses elementos são essenciais para a valorização da obra e conferem charme às composições históricas em processo de restauração.

O encanto original das linhas arquitetônicas da fachada foi restaurado após um trabalho meticuloso de recomposição. Toda a estrutura dos pilares da plataforma passou por serviços de decapagem e aplicação de resina para conservar a aparência envelhecida pela ferrugem, garantindo não apenas segurança, mas também a preservação de seu valor histórico.

A concretagem da própria plataforma deu mais segurança e garantiu uma base sólida para manter sua integridade funcional. 

Cada detalhe original que conta a história da Estação Ferroviária de Taubaté foi tratado com a atenção e os cuidados necessários para respeitar esta obra que tem mais de um século.

É uma iniciativa inovadora para a cidade a proposta de transformar a estação ferroviária em um centro cultural. Estão previstas salas para exposição de obras de artistas locais e lojas de artesanato como forma de fomentar a cultura e o turismo. Restaurantes e bares também serão instalados no novo complexo.

Durante a obra de restauração, a estação foi palco do Projeto Canteiro Aberto – Estação das Artes, que consistiu na abertura dos canteiros da obra de restauro com o propósito de integrar a comunidade local e os demais visitantes ao processo de reintegração e salvaguarda do patrimônio histórico.

Visconde de Sabugosa, a boneca Emília e Tia Nastácia, protagonistas do Sítio do Picapau Amarelo, foram os responsáveis pela conexão entre o patrimônio material, a Estação Ferroviária de Taubaté, e o imaterial, a obra de Monteiro Lobato. A programação contou ainda com atividades lúdicas e educativas baseadas em informações relacionadas ao monumento histórico.

O evento é uma iniciativa do Instituto Biapó, em parceria com o Brasil Restauro e o Instituto de Desenvolvimento e Sustentabilidade Humana, que parte do preceito de que restaurar monumentos históricos significa mais do que reparar danos e desgastes físicos de prédios antigos. Estimular a leitura do monumento arquitetônico também significa valorizar e ressignificar as experiências do passado e a autoestima das comunidades, criando condições para que elas reconheçam sua identidade, preservem seu legado e compartilhem suas memórias para fortalecer a cultura local e promover o acesso ao conhecimento arquitetônico.