Forte Nossa Senhora dos Remédios
Histórico do Monumento
Esta fortificação foi erguida sobre as ruínas de uma antiga posição neerlandesa, remontando às vésperas da segunda invasão holandesa no Brasil. Foi abandonada após a capitulação do Campo do Taborda, em Recife, em 1654.
Ocupada por forças da Companhia Francesa das Índias Ocidentais, a Coroa portuguesa determinou sua retomada, colonização e fortificação ao governador da capitania de Pernambuco. Sem encontrar resistência, foi iniciada a construção do Forte de Nossa Senhora dos Remédios de Fernando de Noronha, do Reduto de Santo Antônio de Fernando de Noronha e do Reduto de Nossa Senhora da Conceição de Fernando de Noronha, obras ampliadas a partir de 1741.
Em 1848, durante a Insurreição Praieira, serviu como prisão política. E em 1935, com a repressão à Intentona Comunista, voltou a receber seiscentos prisioneiros políticos, mantendo o presídio em atividade até a criação do Território de Fernando de Noronha, em 1942. Os prisioneiros foram então transferidos para Ilha Grande, no litoral do estado do Rio de Janeiro.
Nesse ano, no auge da batalha pelo Atlântico durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o arquipélago voltou ao mapa, pela sua importância estratégica em termos de suporte logístico para as patrulhas antissubmarino da Força Aérea Brasileira (FAB) e da United States Air Force (USAF) para as embarcações de apoio aéreo da US Navy quando da invasão da Normandia (em junho de 1944); apoio técnico aos sistemas de cabos submarinos que ligavam o subcontinente sul-americano (Recife) ao continente africano (Dakar), operados pela inglesa Western Telegraph Company e pela italiana Italcable, esta última sob intervenção brasileira após a declaração de guerra ao Eixo e defesa desse território insular brasileiro contra uma possível agressão.
Administrado pelo Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), no início de 1986 iniciou-se a exploração turística do arquipélago. No Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho desse mesmo ano), foi declarado como Área de Proteção Ambiental (APA), permitindo a exploração turística racional do local, de forma a preservar seu ecossistema, sobretudo a vida marinha.
O Restauro
O trabalho de restauro arquitetônico incluiu a recuperação física dos ambientes arruinados e a instalação de equipamentos de apoio e culturais permitindo a ocupação do espaço para uso público. No Forte de Nossa Senhora dos Remédios foram executados serviços de restauro de alvenarias e pisos de pedras e rebocos, inserção de novos pisos, coberturas, instalações elétricas e de equipamentos.
As muralhas foram totalmente restauradas, sendo que as paredes externas receberam pintura a cal e alguns trechos tiveram acabamento de pedras aparentes.
Foram realizados serviços de reforço estrutural do vértice da muralha, localizado na lateral direita da fachada principal; assentamento de pisos de pedra miracema (passarelas de circulação da área externa), tijoleira (ambientes internos) e cerâmica (áreas molhadas); instalação de guarda-corpos e decks de madeira na estrada de acesso e no ambiente do Memorial do Forte; instalação de portas e janelas de madeira; execução de divisórias de gesso acartonado para criação dos ambientes dos sanitários; acabamentos finais como instalações elétricas e hidrossanitárias; restauração de canhões; e instalação de equipamentos urbanos.
Os canhões que se encontravam no pátio e na frente da entrada principal foram transportados para o terrapleno. A operação contou com o acompanhamento da equipe técnica da Biapó e dos militares da ilha, responsáveis pela estabilização do processo de oxidação de todos os canhões de Fernando de Noronha
Para realizar o deslocamento, foi utilizado um caminhão Munck para içar os canhões de cerca de 3,5 toneladas. Em função da descoberta de duas novas canhoneiras no terrapleno, houve também a necessidade de realocar os 20 canhões existentes no Forte Nossa Senhora dos Remédios. Pensando na nova disposição, foram avaliadas questões como a manutenção das peças que já se encontram posicionadas e a configuração do layout conforme a orientação dos militares, que indicaram que as peças maiores deveriam ser posicionadas nas quinas.
Uma equipe militar realizou o treinamento de profissionais da Biapó e da Econoronha no Forte Nossa Senhora dos Remédios, com a anuência do Iphan, após uma discussão feita com representantes do instituto. O procedimento proposto para o restauro incluiu as seguintes etapas: jateamento com uso de pistola pneumática de agulhas; utilização de escova de aço para refinar o processo; aplicação de fundo fosfatizante bicomponente com catalizador correspondente (Wash Prime Vinílico) e de produto com pistol de pintura por gravidade; aplicação de emborrachamento automotivo bate-pedras à base d ́água, com pistola para aplicação de borracha e de tinta automotiva preta fosca vinílica.
Embora seja uma das principais atrações turísticas da ilha, com uma vista privilegiada, para muitos moradores, o Forte traz à memória narrativas de sofrimento e dor. Mas, aos poucos, a proposta cultural e as ações da Biapó foram transformando esta história, com uma intensa programação que trouxe o tema Memória é Nosso Forte, com objetivo de ressignificar as lembranças relacionadas ao espaço.
Durante todo o período de obras, a fortaleza esteve aberta para visitação turística, o que foi possível através do isolamento das áreas de trabalho, que garantiu a segurança do público visitante. O projeto cultural desenvolvido levou à população filmes, música, literatura, ações ambientais e teatro. A intensa programação cultural prometeu deixar boas lembranças nos moradores, que foram constantemente surpreendidos com uma nova atração.
Ficha técnica
Localização: Fernando de Noronha (PE)
Período de restauração: Janeiro/2018 a outubro/2019
Data de construção: 1737
Proteções existentes: Tombado como Monumento Nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Obras de restauração: Arquitetônica
Contratante: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, superintendência de Pernambuco (Iphan-PE)
Registro fotográfico: Silvio Cavalcante e Paulo Rezende