Fortaleza Santo Antônio de Ratones
Histórico do Monumento
A Fortaleza de Santo Antônio de Ratones localiza-se na ilha de Ratones Grande, na baía norte da ilha de Santa Catarina, entre a ponta da Gamboa e de Sambaqui. Construída em 1740, a fortificação, junto às outras duas localizadas na barra norte da ilha, integrava o sistema defensivo da ilha de Santa Catarina no século XVIII por causa das disputas diplomáticas e de militares entre Portugal e Espanha.
A maioria dos edifícios da fortificação está situada num mesmo terrapleno e voltada para o mar: Casa do Comandante, Casa da Palamenta, Quartel da Tropa, Casa dos Oficiais e Paiol da Pólvora, guarnecidos por uma muralha de pedra que se desenvolve ao norte, com um traçado curvilíneo, seguindo para o noroeste. Todos, assim como as muralhas, foram construídos com alvenaria de pedras (granito extraído da própria ilha de Ratones), revestidos originalmente com reboco de cal produzido com conchas de moluscos, abundantes na região, e areia. A Casa do Comandante e o Quartel da Tropa eram edifícios que tinham calhas para captação de água da chuva, aumentando as reservas para além da fonte existente na ilha.
As edificações mais significativas são a Portada e Casa da Guarda, a Fonte D’Água e o Aqueduto. Além de seu expressivo acervo arquitetônico, a Ilha de Ratones Grande apresenta uma paisagem natural exuberante, formada por Mata Atlântica.
Abandonada durante décadas, encontrava-se já completamente arruinada quando foi tombada em 1938 como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Na década de 1980, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) coordenou os primeiros trabalhos de arqueologia e de mutirões de limpeza da vegetação que havia encoberto completamente a fortaleza.
Entre 1990 e 1991, no âmbito do “Projeto Fortalezas da Ilha de Santa Catarina – 250 anos na História Brasileira”, foi concluída a restauração da maioria dos edifícios da Fortaleza de Ratones, que passou a ser mantida e gerenciada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Com as obras daquela época, os monumentos tiveram muitos de suas edificações recuperadas do abandono em que se encontravam. Após o restauro, as fortalezas passaram a receber visitantes e se tornaram importantes pontos turísticos da região.
O Restauro
A Fortaleza de Santo Antônio de Ratones passou por restauro e requalificação, realizado pela Biapó, com intervenções de solo e na massa edificada. O projeto contemplou a valorização dos rudimentos arquitetônicos de forma a enfatizar e relembrar o marco da cultura brasileira.
Olhando a Ilha de Ratones Grande, ao longe foi possível perceber as alterações na estrutura. Alguns edifícios receberam reboco, que era a forma original de revestimento das paredes. A Casa da Palamenta foi a edificação piloto em que foram testadas as técnicas construtivas para restauração de todo o conjunto arquitetônico.
Em alguns locais das fortificações, optou-se por materiais, como estruturas metálicas, que visivelmente não eram aqueles utilizados no século XVIII, época de construção do sistema defensivo da Ilha de Santa Catarina. Essa técnica teve como objetivo deixar claro para o observador que aquela estrutura específica não havia na fortaleza originalmente, evitando se construir o que se chama de falso histórico. Dessa forma, o visitante pode diferenciar o que faz parte da história daquilo que teve de ser instalado para promover melhor acesso ou conforto no monumento.
Os monumentos foram requalificados incluindo melhorias estruturais, restauro de telhados e da rede hidráulica, instalações elétricas, pintura e iluminação, e trabalhos voltados à acessibilidade, ao paisagismo, à expografia e à sinalização. Foram instaladas placas interpretativas de sinalização com informações em português e inglês sobre o contexto das fortificações brasileiras, o sistema defensivo de Santa Catarina, os mapas do triângulo defensivo, entre outros.
Os contrafortes também foram restaurados e foi realizado o reforço estrutural da Portada, minimizando riscos de ruptura do acesso principal aos pátios da fortificação.
O projeto de restauro também incluiu soluções interessantes para garantir a acessibilidade, muitas vezes dificultada pelos caminhos de pedras íngremes e irregulares em grandes aclives, e proporcionar experiências contemplativas da natureza ao redor. O deck com estrutura metálica e assoalho de madeira, de aproximadamente 150 metros, contorna grande parte da edificação e se conecta a um elevador plano inclinado para facilitar o deslocamento no terreno de grande desnível. O elevador com vidro laminado transparente, que permite uma vista panorâmica da ilha, faz um percurso em trilhos de 22 metros, com plataformas de embarque e desembarque. A proposta é que, ao desembarcar da cabine do elevador, o visitante possa seguir pela rota acessível até as edificações e, ao final do percurso, voltar sem dificuldade pelo deck com pequenas inclinações.
Uma solução de aplicação de tecnologia que estabeleceu um contraponto interessante em relação ao passado histórico da fortaleza foi a presença de painéis solares fotovoltaicos mais eficientes para o fornecimento de energia. A Casa de Baterias teve grande avanço em sua construção e contou com toda instalação elétrica e acomodação dos dispositivos. O sistema foi totalmente renovado, sem reaproveitamento da estrutura e de equipamentos das instalações anteriores. Como não existem outras fontes de energia na ilha de Ratones, o sistema fotovoltaico (complementado pelo sistema de armazenamento em baterias), além de atender totalmente a demanda do forte, apresenta-se como uma solução inteligente e protetora do meio ambiente.
As obras de restauro tiveram um acompanhamento arqueológico minucioso em toda execução do trabalho realizado pelas equipes de engenharia e arquitetura com objetivo de inspecionar, detectar e resgatar os diversos testemunhos relacionados ao período histórico de construção, utilização e funcionamento dos fortes e do seu entorno.
Ficha técnica
Localização: Florianópolis (SC)
Período de restauração: Dezembro/2019 a janeiro/2023
Data de construção: 1740
Proteções existentes: Monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Obras de restauração: Arquitetônica