Museu Nacional Quinta da Boa Vista
Histórico do Monumento
O Palácio de São Cristóvão está localizado na Quinta da Boa Vista, no bairro imperial de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro. O edifício histórico foi residência oficial da família real portuguesa durante seus primeiros anos no Brasil. Com o retorno de Dom João VI para seu país de origem, em 1821, o local continuou sendo a moradia do imperador Dom Pedro I. As primeiras intervenções estruturais iniciaram a partir da independência do Brasil, quando Dom Pedro I encarregou o arquiteto português Manuel da Costa de uma remodelação do palácio.
Em 1826, com a morte do profissional português, assume o francês Pierre Joseph Pézerat, engenheiro imperial que conclui os trabalhos cinco anos mais tarde e legou à edificação o estilo neoclássico.
A criação do Museu Real foi influenciada pela imperatriz Leopoldina e sua paixão pelas ciências naturais. A partir de 1842, o museu recebe a nomenclatura de Museu Nacional e o edifício passa, em seguida, por interferências do arquiteto brasileiro Manuel de Araújo Porto-Alegre, que projetou a atual entrada de honra, e do alemão Theodore Marx, que transferiu a Sala do Trono e a do Corpo Diplomático do térreo para o segundo pavimento, uma década mais tarde.
No interior do monumento histórico, haviam vários afrescos pintados e restaurados pelo italiano Mario Bragaldi. No telhado do torreão norte, o Observatório Astronômico do Imperador, projetado todo em vidro pelo engenheiro Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, oferecia uma visão panorâmica do céu.
A construção do terceiro pavimento e a instalação de 30 estátuas à semelhança de deuses gregos no telhado foram idealizadas por Dom Pedro II, que também deu especial atenção aos jardins, projetados, por volta de 1869, pelo paisagista francês Auguste François Marie Glaziou. O Jardim das Princesas, área ligada ao paço, foi idealizada como um espaço de lazer no qual as princesas Isabel e Leopoldina, filhas de Dom Pedro II, passavam o tempo livre, praticando atividades como artesanato e jardinagem. Foram instalados fontes e bancos em alvenaria, decorados com mosaicos de conchas e pedaços de louças. Após essa intervenção, pela primeira vez, o Portão de Northumberland passa a ser a entrada monumental do Palácio de São Cristóvão. Datam dessa mesma época a alameda das Sapucaias, o lago de pedalinhos e a gruta artificial.
As demais intervenções realizadas foram motivadas pela transferência do museu para as instalações do palácio, devido à necessidade de adaptar o espaço residencial para um ambiente científico e de visitação pública. Durante a República Velha (1889-1930), sob a administração do município, o arquiteto Luiz Reys projetou o Jardim Terraço, construído em estilo italiano no pátio em frente ao palácio.Todo o conjunto arquitetônico passou a ser definitivamente resguardado a partir de 1938, após o tombamento realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Somente em 1946 o museu passou a fazer parte da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em setembro de 2018, um incêndio de grande proporção destruiu 85% do acervo do edifício histórico, que abrangia áreas da ciência como zoologia, arqueologia, etnologia, geologia, paleontologia e antropologia biológica.
O Restauro
Em 2021, a Construtora Biapó assinou um contrato com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para executar serviços e obras de pré-consolidação que tiveram como intuito proteger os bens integrados no interior do Paço de São Cristóvão e do Jardim das Princesas, sede do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, localizado na zona norte do Rio de Janeiro.
A concepção arquitetônica de reconstrução e de restauração fez parte do projeto Museu Nacional Vive, resultado de uma ação cooperativa proposta após o incêndio. A iniciativa – firmada entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Unesco e o Instituto Cultural Vale, com apoio de instituições parceiras e da Associação Amigos do Museu Nacional (SAMN) – se pautou na mobilização social e na permanente articulação entre as organizações envolvidas para reconstruir e devolver à sociedade uma instituição de valores históricos e artísticos.
Diversos elementos ornamentais e artísticos do Jardim das Princesas e do Paço de São Cristóvão foram higienizados, conservados e preparados antes da fase de reparos nas fachadas e nas coberturas do palácio. O trabalho executado pela Construtora Biapó resultou ainda na feitura de 45 moldes de ornamentos escultóricos e 75 perfis/modelos para reprodução de frisos, sancas, cimalhas e molduras de 29 ambientes do palácio. Os produtos gerados serviram de subsídios para o desenvolvimento dos projetos de arquitetura, restauro e intervenções complementares.
Alguns ornatos resistiram nos ambientes históricos, como a Sala do Trono, construída para ser o “templo” do imperador, com pinturas em alto-relevo de ouro nas paredes e no teto, a escadaria monumental de mármore, os ladrilhos hidráulicos, as pinturas murais e o famoso meteorito Bendegó. No jardim histórico das princesas, bancos, tronos e mosaicos de conchas elaborados por meio da técnica românica de embrechamento, que consiste em incrustar conchas e cacos de louças sobre a argamassa fresca, passaram por um rigoroso processo de restauro, assim como as fontes de gnaisse e o chafariz.
Todo trabalho e o manejo de cada bem integrado foram realizados com extremo cuidado, respeitando os princípios do restauro, de compatibilidade e apreço pelo original, com intervenção mínima, reversibilidade e reconhecimento pela equipe de profissionais da Biapó.
Ficha técnica
Localização: Rio de Janeiro (RJ)
Período de restauração: Fevereiro/2021 a agosto/2021
Data de construção: 1803 e 1869
Obras de restauração: Arquitetônica
Contratante: UNESCO
Registro fotográfico: Felipe Cohen