






Palacete Tira Chapéu
Histórico do Monumento
O Palacete Tira Chapéu foi inaugurado em 1917 pelo comendador Bernardo Martins Catharino foi doado em 1918 à Associação dos Empregados do Comércio da Bahia (AECBA).
O projeto, de autoria de Baptista Rossi, se tornou uma das mais emblemáticas obras do autor em Salvador. O edifício possui 3 pavimentos e suas fachadas são compostas por elementos marcantes do ecletismo, características que incluem desde capitéis, frisos, cornijas, volutas e até elementos figurativos como os atlantes na porta principal.
Os pisos se apresentam em tabuado de madeira ou ladrilho hidráulico policromático, material considerado inovador na época. A composição em ladrilho hidráulico foi feita com peças hexagonais que formam flores através de um mosaico em verde, vermelho, amarelo e branco. Já quando analisada a parte anexa, estruturada em concreto, os pisos são em taco e há presença de ladrilhos hidráulicos nas circulações, esse último bicromático em preto e branco.
Os forros são de madeira ou compostos de gesso com ornamentação em estuque. Há também, no Salão Nobre do Palacete, um forro de gesso ornamentado com presença de belíssimas pinturas decorativas.
O Palacete Tira Chapéu possui bens integrados à arquitetura, ou seja, elementos que estão fixados à arquitetura do edifício e incorporam o bem trazendo unidade à composição. A partir disso, podemos ressaltar primeiramente a fachada principal, onde assim como em outras obras de Rossi, podemos observar adornos, volutas, colunas, capitéis, atlantes e até o torreão, como itens de valor artístico e histórico que agregam e compõem a edificação.
Internamente, já no hall principal do Palacete, há bens integrados de técnicas distintas, tais como colunas e paredes pintadas na técnica marmorino, vitral em vidraça composta por vidros e pintura sobre vidro, azulejos modulares e uma variedade de pinturas parietais. Há também balaústres em madeira, localizados no Salão da Plenária e na Biblioteca, além de pilares e gradis em ferro fundido.
Tamanha riqueza de detalhes, a excelência na escolha dos materiais e a sua execução primorosa fazem do Palacete Tira Chapéu um dos mais imponentes edifícios da Rua Chile. O projeto de Rossi Baptista se tornou, portanto, um marco na arquitetura eclética desenvolvida na cidade de Salvador.
O Restauro
Com o restauro e a requalificação deste edifício, o objetivo é criar espaços para atividades gastronômicas, artísticas e performáticas. A obra é realizada pela Construtora Biapó em parceria com a Elysium Sociedade Cultural, com o apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e prevê o restauro de todas as fachadas, esquadrias de madeira, pisos, forros e balaústres, forro artístico, ladrilhos hidráulicos e vitrais. Pisos, elementos decorativos da fachada e pilares são tratados com técnicas específicas de restauro
Moldes de silicone reproduzem fielmente objetos ornamentais a partir de um modelo. Na cobertura do edifício, as telhas cerâmicas coloniais sobre estrutura de madeira foram retiradas, pois estavam em estado irregular, com comprometimento crítico da estrutura de madeira do telhado, o que demandava reposições de peças. Em vários pontos, foi necessário fazer um escoramento para evitar o rompimento da estrutura.
O trabalho de restauro da cobertura visa a manter todo o desenho volumétrico, assim como o sistema construtivo original, com madeiramento estrutural e fechamento em telhas cerâmicas do tipo francesa, muito utilizadas no início do século XX, com exemplares em diversos edifícios de estilo eclético. Uma curiosidade interessante é que nas telhas do palacete foram encontradas inscrições da Olaria Ludolf e Ludolf, empresa de origem alemã criada pelos irmãos Ludolf em 1905 no Rio de Janeiro, que teve seu auge em 1940, quando foi considerada a maior empresa de fabricação de cerâmicas do Brasil.
Outra parte importante da obra que deve ser iniciada em breve é o meticuloso trabalho de recuperação dos aeríferos, estruturas dispostas em delicadas formas vazadas nas composições dos forros de madeira para conduzir o ar e melhorar a ventilação dos cômodos, cujos protótipos já foram feitos para servir de modelo. Esse é um recurso muito utilizado em prédios ecléticos, por sua estética elegante. Essas aberturas sofreram com a ação do tempo e o ataque de insetos, mas a equipe de restauro especializada em marcenaria foi capaz de recuperar uma parte das peças e utilizá-las como modelo na produção de novas para completar todo o conjunto e devolver a beleza dos detalhes tão característicos desse monumento.
A escada de madeira do Tira Chapéu também representa um desafio para a equipe de restauração, por exigir um trabalhoso levantamento cadastral e fotográfico de toda a estrutura, assim como sua desmontagem e subsequente etiquetagem e nomeação de cada peça após a etapa de higienização e reconhecimento dos danos. Localizada no primeiro pavimento, próxima ao Salão da Plenária, a bela escada com planta em U e degraus em leque foi toda construída em peroba-do-campo. Seus guarda-corpos em madeira são compostos por balaústres torneados, também encontrados em outros locais do palacete, como a biblioteca e a galeria do Salão da Plenária.
Além da qualidade dos processos de restauro do Palacete Tira Chapéu, a obra se consolida como referência em transparência e democratização das informações. Para isso, foram criados diversos perfis nas redes sociais (Instagram, Facebook, YouTube), além de um site e um blogue. Por meio desses canais de comunicação, é possível acompanhar praticamente em tempo real a evolução das etapas de restauro executadas, conhecer as inúmeras técnicas utilizadas e ter acesso à história do monumento.
De 8 a 12 de fevereiro de 2023, aconteceu o Circuito Cultural Palacete Tira Chapéu, um esquenta de Carnaval para promover grupos locais e o desenvolvimento socioeconômico da região, organizado pela Elysium Sociedade Cultural. Quatro grupos – Ngoma Móvel de Sopro e Atabaque, Movimento Percussivo, Charanga do Gui e Tambores e Cores – revezaram-se nos cinco dias de programação para comandar a festa. Dessa forma, é colocada em prática a ideia de que o restauro de um patrimônio artístico e cultural como o Palacete Tira Chapéu é mais do que uma recuperação física da edificação. O objetivo é assegurar que o monumento se mantenha em funcionamento como oferta de arte e cultura em Salvador, trazendo para perto de si a comunidade.
Ficha técnica
Localização: Salvador (BA)
Período de restauração: Dezembro/2019 a setembro/2024
Data de construção: 1740
Proteções existentes: Monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Obras de restauração: Arquitetônica